Tuesday, July 10, 2007
parte 1
Quarto de Costura
Numa casa senhorial barroca no centro de Braga instala-se o Museu dos Biscainhos, museu de artes decorativas, eu diria uma casa museu, no entanto nada do seu recheio pertenceu à casa, ou melhor, à família que sempre aí habitou, ao seu último proprietário, o 3º Visconde de Paço de Nespereira que vendeu o imóvel nos anos 70. Contudo apresenta-se ali a ficção da vivência da sociedade nobre portuguesa.
Uma das salas está disposta de forma a apresentar um espaço vivido por mulheres e espelhando uma das pinturas da sala, instalou-se um estrado no centro, coberto com tapetes e almofadões, onde dificilmente imagino, se sentariam as mulheres para ler e dedicarem-se aos ditos lavores femininos, receberem as visitas e conversarem.
Numa outra ala da casa, replico a sala das mulheres, num quarto a que dão o nome de sala das abelhas por apresentar as paredes decoradas com este animal. De inicio é bastante inquietante, até porque me parecem moscardos e não abelhas, mas com o tempo habituamos-nos às cores e ao enxame.
Estrado e almofadões não poderiam faltar, mas actualizados com os padrões de hoje, os meus claro. Chá e línguas-de-gato são oferecidos ao que escolhem visitar-me e sentar-se para uma possível sessão de corte e costura. Havia um PC portátil com acesso à Internet, caso quiséssemos ver alguma coisa online; um Ipod ligado a colunas altifalantes, porque é bom ter música na sala; uma pequena selecção de livros importantes para mim neste contexto, The City of Ladies de Christine de Pizan, Caras Baratas_antologia de Adília Lopes, Scum Manifesto de Valerie Solanas, Embroideries de Marjane Satrapi e Dicionário da Crítica Feminista de Ana Gabriela Macedo e Ana Luísa Amaral; um conjunto de agulhas de tricotar e um conjunto de agulhas de fazer meia, porque se nada houvesse para fazer poderia ficar a pensar na morte da bezerra sem que ninguém desse por nada, porque para todos os efeitos estaria a tricotar, mas na realidade já não tricoto nada de útil há muito tempo, faço e desfaço, em algodão branco.
Recentemente o mundo tem visto crescer o movimento de mulheres que tricotam juntas, internacionalmente chamam a estes encontros: Stitch’n’Bitch, ou seja, corte e costura, aquilo que dizem que fazem as mulheres quando se encontram--falam da vida alheia. Mas acho que essencialmente falam da vida, partilham experiências, ouvem; o tricot é apenas pretexto.
Assim propus-me a habitar a casa museu dos Biscainhos, criando um espaço onde as pessoas pudessem conversar. Trazendo a minha possível sala de estar para o contexto do Museu. Assim fizeram os artistas da estética apelidada por Bourriaud de Estética Relacional, artistas como Rirkrit Tiravanija. Criticados, e preocupação crítica que partilho, por trazerem para os museus tácticas activistas e sociais e até mesmo situacionistas, domesticando-as, estétizando-as. Acabo por criar uma situação semelhante. Poderia dizer a ficha técnica à maneira desta estética: instalação com (todos os objectos nomeados) e pessoas. Perante um convite que aceitei para intervir no contexto da colecção e arquitectura do Museu dos Biscainhos, não poderia fazer outra coisa senão habita-lo, contudo não creio que me insira nesta estética.
Numa casa senhorial barroca no centro de Braga instala-se o Museu dos Biscainhos, museu de artes decorativas, eu diria uma casa museu, no entanto nada do seu recheio pertenceu à casa, ou melhor, à família que sempre aí habitou, ao seu último proprietário, o 3º Visconde de Paço de Nespereira que vendeu o imóvel nos anos 70. Contudo apresenta-se ali a ficção da vivência da sociedade nobre portuguesa.
Uma das salas está disposta de forma a apresentar um espaço vivido por mulheres e espelhando uma das pinturas da sala, instalou-se um estrado no centro, coberto com tapetes e almofadões, onde dificilmente imagino, se sentariam as mulheres para ler e dedicarem-se aos ditos lavores femininos, receberem as visitas e conversarem.
Numa outra ala da casa, replico a sala das mulheres, num quarto a que dão o nome de sala das abelhas por apresentar as paredes decoradas com este animal. De inicio é bastante inquietante, até porque me parecem moscardos e não abelhas, mas com o tempo habituamos-nos às cores e ao enxame.
Estrado e almofadões não poderiam faltar, mas actualizados com os padrões de hoje, os meus claro. Chá e línguas-de-gato são oferecidos ao que escolhem visitar-me e sentar-se para uma possível sessão de corte e costura. Havia um PC portátil com acesso à Internet, caso quiséssemos ver alguma coisa online; um Ipod ligado a colunas altifalantes, porque é bom ter música na sala; uma pequena selecção de livros importantes para mim neste contexto, The City of Ladies de Christine de Pizan, Caras Baratas_antologia de Adília Lopes, Scum Manifesto de Valerie Solanas, Embroideries de Marjane Satrapi e Dicionário da Crítica Feminista de Ana Gabriela Macedo e Ana Luísa Amaral; um conjunto de agulhas de tricotar e um conjunto de agulhas de fazer meia, porque se nada houvesse para fazer poderia ficar a pensar na morte da bezerra sem que ninguém desse por nada, porque para todos os efeitos estaria a tricotar, mas na realidade já não tricoto nada de útil há muito tempo, faço e desfaço, em algodão branco.
Recentemente o mundo tem visto crescer o movimento de mulheres que tricotam juntas, internacionalmente chamam a estes encontros: Stitch’n’Bitch, ou seja, corte e costura, aquilo que dizem que fazem as mulheres quando se encontram--falam da vida alheia. Mas acho que essencialmente falam da vida, partilham experiências, ouvem; o tricot é apenas pretexto.
Assim propus-me a habitar a casa museu dos Biscainhos, criando um espaço onde as pessoas pudessem conversar. Trazendo a minha possível sala de estar para o contexto do Museu. Assim fizeram os artistas da estética apelidada por Bourriaud de Estética Relacional, artistas como Rirkrit Tiravanija. Criticados, e preocupação crítica que partilho, por trazerem para os museus tácticas activistas e sociais e até mesmo situacionistas, domesticando-as, estétizando-as. Acabo por criar uma situação semelhante. Poderia dizer a ficha técnica à maneira desta estética: instalação com (todos os objectos nomeados) e pessoas. Perante um convite que aceitei para intervir no contexto da colecção e arquitectura do Museu dos Biscainhos, não poderia fazer outra coisa senão habita-lo, contudo não creio que me insira nesta estética.
Sunday, July 8, 2007
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